sábado, junho 24, 2006

A direita contra o laicismo e a República

O debate em torno do Protocolo de Estado revelou de uma maneira evidente a posição da direita em relação à identidade republicana e laica do Estado Português. A proposta do PSD, cujo autor é o fundamentalista católico Mota Amaral (não fosse ele membro da Opus Dei), mais parecia uma proposta do PPM. O PSD defende que os representantes da Igreja Católica (três representantes) tenham precedência sobre os ministros, enquanto que os descendentes da "Família Real" estão á frente dos antigos presidentes dos governos regionais. Já o CDS coloca os herdeiros "reais" a seguir aos ex-chefes de estado. O deputado do CDS, Nuno Melo, atirou frases irónicas em relação á suposta "extinção" dos feriados religiosos e das ordens militares de Avis, de Cristo ou de Santiago.
Estas propostas revelam, efectivamente, a posição da direita em relação ao laicismo do Estado e ás conquistas de Abril. Aliás, o próprio Mota Amaral referiu numa entrevista ao Público que "antes do 25 de Abril, o patriarca até ficava num trono ao nível dos ministros". Pois, parece que o Sr. Mota Amaral não sabe que houve uma Revolução e que uma das conquistas dessa Revolução (conquistas enfraquecidas que tendem a desaparecer pela acção reaccionária da direita), foi, efectivamente, a laicização do Estado, conquista essa que ainda não foi concluída, senão veja-se a influência que a Igreja Católica exerce no Estado e na sociedade portuguesa. Parece, portanto, que o Sr. Mota Amaral e restantes companheiros da direita querem um retorno à teocracia salazarista, desejo que, pessoalmente, não me admira. Quanto ao facto de a direita desejar que os descendentes da família estejam representados no Protocolo de Estado só demonstra que esta "ainda não digeriu o 5 de Outubro", ou então deseja um espécie de "sistema misto", ideia que deve ser combatida em nome de uma República laica e Socialista. República laica e Socialista que o PS, apesar de ser mais razoável do que a direita, propriamente dita, não defende.
Estas posições reaccionárias do PSD e PP serão sempre um perigo contra a República, contra a laicismo do Estado, e , consequentemente, contra a democracia, pois nenhum Estado monárquico e teocrático é verdadeiramente democrático.